Tuesday, December 06, 2005

Diferenças entre Maio de 1968 e Novembro de 2005 na França


O ano de 1968 foi um ano ímpar. A juventude mundial lutava por um novo pensamento e estilo de vida, criticando o capitalismo selvagem e a sociedade de consumo.
Na França, uma greve geral dos trabalhadores explodia e nas ruas os estudantes entravam em confronto com a polícia. A população aderiu às manifestações. Operários, donas-de-casa, escritores, deputados, anarquistas, socialistas, trotskistas e nacionalistas apareciam para discutir e escutar.A crise internacional de 1968 espalhou-se nos quatro cantos do mundo. Os jovens carregavam fotos de Che Guevara e Mao Tse-Tung, discutiam Bakunin, Rosa de Luxemburgo, Marx, Lênin e Trotski. Para eles, a imaginação era a única alternativa. Foi a revolução do pensamento, do cotidiano, da necessidade de libertação e Paris foi o símbolo dessa possibilidade histórica de realizar o impossível. Foi na França que muitos dos maiores movimentos iniciaram, e a partir deles aconteceram muitas das maiores transformações na cultura e no pensamento humano.Porém, o que começou no ano de 1968 é diferente do que está acontecendo agora.
Em 27 de Outubro de 2005, dois jovens perseguidos pela polícia morreram eletrocutados acidentalmente. Este foi o estopim da onda de violência de novembro. O ministro do interior, Nicolas Sarkozy, que é um dos principais alvos do protesto, aplicou a medida de tolerância zero contra a violência. Afirmou que é necessário fazer uma “faxina” para controlar a crise.No conflito atual, não existe uma ideologia clara por trás da revolta nas ruas e nos subúrbios franceses. O que acontece no país que historicamente sempre defendeu os direitos de “igualdade, liberdade e fraternidade” é a exclusão de milhares de jovens nascidos na França, mas descendentes de africanos e árabes, que são discriminados por questões raciais. É uma xenofobia disfarçada. O que estes jovens exigem são mais empregos e melhores perspectivas de vida.
Para o historiador francês Alexandre Roche, entre os imigrantes existem problemas com tradições e princípios éticos distintos. Esse tipo de relação remete ao colonialismo, que os franceses querem esquecer e os colonizados não esquecem. Carros queimados pelos manifestantes são o reflexo de algo que a França já vê há algum tempo nos finais de semana.O movimento que ontem nasceu nas elites, hoje nasce na periferia, que é um mundo à parte para a maioria dos parisienses. Em 1968, a população estava reunida contra governo e a favor dos manifestos. Hoje, ela desaprova os atos de violência. Esse vandalismo organizado atinge escolas e carros que são incendiados.Mesmo que nos últimos dias os confrontos estejam perdendo força, existem versões que aludem a uma revolução social em marcha. Em alguns países europeus também ocorreram distúrbios. O presidente Jacques Chirac prometeu integrar melhor os jovens de origem estrangeira e lutar contra o “veneno da discriminação”.Essas duas juventudes, separadas por quatro décadas, se encontram num ponto em comum. No momento em que se comportam com indignação diante do descaso da sociedade em que vivem e não lhes dá oportunidade e atenção, buscam sair do estatus quo que lhes é imposto pelos sistemas capitalistas. Eles se aproximam, mexem com as estruturas sociais de um modelo de integração falido e promovem o questionamento e a discussão.

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